Cerdeira, também designada Cerdeira do Côa, é uma povoação portuguesa sede da Freguesia de Cerdeira do Município de Sabugal, freguesia com 24,13 km² de área[1] e 188 habitantes (censo de 2021)[2], tendo, por isso, uma densidade populacional de 7,8 hab./km².
Demografia
A população registada nos censos foi:[2]
População da Freguesia de Cerdeira[3] |
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Ano | Pop. | ±% |
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1864 | 297 | — |
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1878 | 322 | +8.4% |
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1890 | 450 | +39.8% |
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1900 | 495 | +10.0% |
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1911 | 550 | +11.1% |
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1920 | 472 | −14.2% |
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1930 | 517 | +9.5% |
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1940 | 614 | +18.8% |
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1950 | 651 | +6.0% |
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1960 | 576 | −11.5% |
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1970 | 512 | −11.1% |
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1981 | 382 | −25.4% |
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1991 | 385 | +0.8% |
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2001 | 262 | −31.9% |
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2011 | 229 | −12.6% |
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2021 | 188 | −17.9% |
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Distribuição da População por Grupos Etários[4]
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Ano
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0-14 Anos
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15-24 Anos
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25-64 Anos
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> 65 Anos
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2001
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25
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30
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116
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91
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2011
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20
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18
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114
|
77
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2021
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19
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18
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84
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67
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Geografia
A freguesia é atravessada pelo rio Noéme, dista 22 km do Sabugal e inclui a povoação da Redondinha e dois lugares abandonados em meados do século XX, Azinheira e Santo Amaro do Cortelho.
A freguesia tem uma extensão máxima de 9.594 m (NW-SE) e uma largura máxima de 3.780 m (SW-NE), entre a ribeira das Cabras, a norte, e o rio Côa, a sul. A meio, é atravessada pelo vale do rio Noéme (E-W), a uma altitude média de 725 m. Ao longo do vale, segue a linha ferroviária da Beira Alta. Perpendicular ao rio e à ferrovia, passa a Estrada Nacional nº 324 (N-S), que liga Pinhel ao Sabugal. O ponto mais alto da freguesia é a Senhora do Monte, a 847 m.
A flora é predominantemente constituída por freixos (Fraxinus excelsior), pinheiros bravos (Pinus pinaster), carvalhos-negral (Quercus pyrenaica), carrasqueiras (Quercus coccifera), amieiros (Alnus glutinosa), giestas (Cytisus), macieiras, pereiras e cerejeiras. Na fauna, predominam o coelho, a perdiz, a codorniz, o pombo bravo, a lontra e a doninha.
Origem do topónimo
Cerdeira é um sinónimo regional e arcaico de cerejeira e também o seu equivalente em galego contemporâneo. Trata-se de um topónimo frequente na Galiza e em Portugal onde designa 57 locais, em 23 concelhos, de todos os distritos da metade norte do país: Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Guarda, Viseu, Porto, Aveiro, Coimbra e Castelo Branco. Em 1229-1321, a topónimo escrito era Cerzeira, com o mesmo significado. O primeiro registo escrito, em Portugal, da palavra cerdeira, data de 1102 , e o de cerejeira, data de 1548.
História
A primeira referência escrita ao topónimo Cerdeira na região data de 1229. Trata-se do primeiro foral de Castelo Mendo, concedido por D. Sancho II. Na descrição dos limites do novo concelho, em terras conquistadas aos árabes em meados do século anterior, é designado o Cabeço da Cerdeira, entre Porto Mourisco e o Cabeço do Homem. As igrejas do novo concelho dependiam da diocese de Viseu.
Após a primeira vaga de ordenamento e repovoamento da margem esquerda do rio Coa, na primeira metade do século XIII, D. Afonso III concedeu foral à Cerdeira, a 1 de maio de 1253. Em 1264, o mesmo rei ordenou ao concelho de Castelo Mendo o respeito pela propriedade e pelas prerrogativas que o mosteiro de Santa Maria de Aguiar detinha na Cerdeira . Em 1279, a paróquia da Cerdeira, ao contrário das restantes paróquias do concelho de Castelo Mendo, dependia desse mosteiro, em terras de Ribacôa, leonesas até ao Tratado de Alcanices, em 1297, e na diocese leonesa de Ciudad Rodrigo até 1403.
É portanto provável que sejam da segunda metade do século XIII a ponte românica de seis arcos redondos que continua a atravessar o rio Noéme e o desaparecido reduto com atalaia ou torre de vigia que se situava na pequena colina sobranceira à aldeia e ao rio, na sua margem norte. A ponte era, então, o único ponto permanente e seguro de passagem norte-sul, entre a Guarda e a fronteira, e serviria o caminho medieval que ligava Pinhel a Castelo Branco.
A fortificação foi destruída durante as invasões francesas, no início do século XIX e, segundo a tradição oral local, as casas em redor do outeiro foram construídas com as pedras do chamado castelo e a atual torre do relógio foi construída a partir da antiga atalaia. Em 1770, a Cerdeira integrou a nova diocese de Pinhel que viria a fundir-se com a da Guarda, em 1882.
Entretanto, com a extinção do município de Castelo Mendo, em 1855, a Cerdeira tinha passado a integrar o concelho do Sabugal e, em 1880, com a inauguração da linha ferroviária da Beira Alta, tinha entrado em funcionamento a única estação com serviço de mercadorias, entre a Guarda e Vilar Formoso, junto à ponte que ligava o norte e o sul da margem esquerda do rio Coa. Estes foram fatores determinantes para o desenvolvimento económico e social da freguesia que se tornou, nas décadas seguintes, um importante entreposto regional por onde era escoada a abundante produção de castanha e, principalmente, batata.
Entre 1757 e 1890, os fogos passaram de 74 para 115. Em 1890, a sua população era de 444 habitantes e, passado uma década, era de 524 habitantes. Na primeira metade do século XX, com cerca de 200 fogos, tinha escola masculina e feminina, farmácias, agências bancárias, tabernas, casas de pasto, hospedaria e estação postal. Em 1945, foi reconstruída a estrada entre a Cerdeira e o Sabugal. A maior parte da atividade ligada ao transporte ferroviário desenvolveu-se em redor da estação, criando uma nova área urbanizada na margem sul do rio. A parte antiga é conhecida como Povo, a parte mais nova, como Estação.
Património e cultura
- Igreja Matriz, no largo da Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Visitação, cuja festa é celebrada a 2 de julho. A traça original foi alterada por diversas obras de restauro ao longo do século XX. Na segunda-feira de Pentecostes (maio/junho) a igreja também acolhe as Festas de Santa Ana.
- Torre do Relógio, no alto do outeiro sobranceiro à parte mais antiga da aldeia. Terá sido construída a partir das ruínas da torre de atalaia medieval.
- Ponte românica de seis arcos perfeitos, em granito, sobre o rio Noéme. Apesar de ser popularmente designada ponte romana, é provável que seja da segunda metade do século XIII.
- Capela do Senhor dos Aflitos, junto à entrada norte da ponte sobre o rio Noéme.
- Forno Comunitário, no largo da Praça.
- Há ainda um cruzeiro, na Praçaria, cinco chafarizes em pedra e duas fontes na aldeia. No sítio da Fonte Nova, há a Fonte Nova, e no do Chafariz, há um chafariz. Há ainda um cruzeiro no caminho do Seixo e outro no caminho do Jarmelo. Junto ao caminho da Senhora do Monte, encontra-se o Barroco da Massaracana e, no Barroco Gordo, uma sepultura antropomórfica.
A principal festa da freguesia, é a Festa da Nossa Senhora do Monte, celebrada a 15 de Agosto. Segundo a lenda, a mãe de Cristo apareceu no Cabeço da Cerdeira e, em sua honra, começou a ser construída uma ermida a 200 m do local definitivo. Cada vez que eram colocadas pedras no primeiro local, no dia seguinte elas reapareciam no local onde acabou por ser construída, no topo do monte. Nossa Senhora quereria o ponto mais alto para poder ver as suas sete irmãs. Dali avistam-se todos os cumes em redor da bacia do rio Côa.
A ermida, que em tempos teve o seu ermitão, apresenta características românicas semelhantes às da capela do Mileu, na Guarda, e das igrejas da Misericórdia, em Alfaiates e no Sabugal. Nas festas do passado, os pastores levavam os seus rebanhos à Senhora do Monte e davam com eles três voltas à ermida por crerem nos poderes da Senhora na cura de animais.
Em redor da Capela de Santo Amaro, no lugar abandonado de Santo Amaro do Cortelho, junto à ribeira das Cabras, celebra-se, a 15 de janeiro, a festa do padroeiro das doenças dos ossos, com missa e procissão. Junto à capela podem ver-se muitos ex-votos em madeira, deixados pelos devotos em agradecimento de curas conseguidas por interceção de Santo Amaro. Junto ao largo da capela há um forno comunitário. A festa também é conhecida como Festa das Chouriças.
Na Redondinha há a Capela da Senhora do Desterro e um forno comunitário.
Junto ao extremo sul da freguesia, encontra-se a ponte de Sequeiros, ponte românica fortificada, sobre o rio Côa.
Gastronomia
- Sopa de vagens secas, sopa de chícharos (feijão frade) e sopa de feijão com couve galega.
- Cabrito e borrego guisado ou grelhado, pratos típicos da matança como alhos assados ou guisados, burzigada (sarapatel), arroz de espenilha (ossos da espinha), chichorros do redanho (torresmos) e enchidos;
- Arroz-doce, aletria, papas de carolo (milho amarelo ou branco partido), farófias, biscoitos, esquecidos, filhós e rabanadas; a especialidade própria da páscoa é o bolo podre, espécie de pão com ovos e azeite.
Economia e infraestruturas
- Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca, colégio fundado em 1931
- IPSS Sede Cultural Ensino e Trabalho – Centro de Dia para Idosos
- Associação Desportiva e Social “Os Amigos de Cerdeira”
- Jardim de infância, creche, ATL, parque infantil, ringue polidesportivo, salão de festas, posto de saúde, farmácia, mercearias, cafés, bomba de gasolina, panificação, serralharia, produção de caracol, construção civil, destilação e pirotecnia;
Bibliografia
- Azevedo, Carlos Moreira (dir) (2000). História Religiosa de Portugal, vol. 1. Lisboa: Círculo de Leitores.
- Azevedo, Carlos Moreira (dir) (2001). Dicionário de História Religiosa de Portugal, J-P. Lisboa: Círculo de Leitores.
- Azevedo, Francisco Cardoso (org) (1906). Novo Diccionario Chorographico de Portugal Continental e Insular. Porto: Typ José da Silva Mendonça.
- Barrios García, A. Angel (1998). El Proceso de Ocupación y de Ordenación del Espacio en la Raya Leonesa. In AA.VV. O Tratado de Alcanices e a Importância Histórica das Terras de Riba Côa. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa. [pp. 155-184]
- Correia, Joaquim Manuel (1946). Memórias sobre o Concelho do Sabugal. Lisboa: Federação dos Municípios da Beira-Serra.
- Gomes, Rita Costa (2001). Castelos da Raia. Vol. I Beira. Lisboa: IPPAR.
- Houaiss, Antônio (2002). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Lisboa: Círculo de Leitores.
- Leal, Augusto Pinho (1873) Portugal Antigo e Moderno: Diccionário Geográphico, Estatístico, Chorográphico, Heráldico, Archeológico, Histórico, Biográphico & Etymológico de Todas as Cidades, Villas e Freguesias de Portugal e Grande Número de Aldeias, vol.I. Lisboa: Liv. Edit. Mattos Moreira & Companhia.
- Machado, José Pedro (1993). Dicionário Onomástico e Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Horizonte.
Referências